
HISTÓRIAS
DE ALGUNS PRESENTES MUSICAIS
A
CHANCE DE ALADIM
Vera foi me buscar no hospital, onde eu havia ficado
internada por dias. Haviam tirado minha vesícula, eu
estava cheia de dores.
Ela
cuidou de mim com toda paciência, me ajudou a subir
escadas, tomar banho, colocar roupas limpas, pentear
cabelo, comer, só foi embora quando me viu acomodada
com todo o conforto. Algumas horas depois, me dei conta
da data. Era o dia do aniversário dela.
Ela
havia me dado de presente o seu dia, sem dizer nada,
na maior gentileza. A gentileza é um dos traços marcantes
da personalidade de Vera.
Bailarina
e coreógrafa,Vera havia se tornado parte de nossa equipe,
se encarregando da preparação física, da movimentação
cênica e marcações de palco de nossos espetáculos. Havia
morado conosco em São Paulo durante alguns anos e se
tornara parte de nossa tribo, algo maior do que laços
de família.
Já
havia feito alguns ótimos Presentes Musicais para ela.
Mas naquele dia, só mesmo por muito carinho e gratidão
consegui arrumar forças de pegar o violão e buscar inspiração
para presentear essa amiga irmã , e foi assim que compus
a Chance de Aladim.
Experimentei
uma afinação diferente no violão e o tema veio, fácil
e fluido. Fiz a letra como se fosse a Vera pensando,
imagens se associando de forma livre, coisas que ela
acha, que gosta. Um jeitinho atrevido de encarar desafios.
Quando nasce uma canção a gente nunca sabe o seu destino.
Mas essa já nasceu com uma estrela. Na hora de escolher
repertório, foi ela que Ney Matogrosso escolheu. Está
em seu disco Olhos de Farol, numa bela gravação.
Foi
um presente que Vera me deu...
A
chance de Aladim
Clique aqui para ouvir em RealPlayer com Ney Matogrosso
Se
canto sou ave, se choro sou homem,
Se planto me basto, valho mais que dois
Onde a água corre a vida multiplica
O que ninguém explica é o que vem depois
No
alto da montanha o vazio é tamanho
No fundo do mar a terra é abissal
Indo pela beira falta sal na vida
O que ninguém ensina é o ponto do mingau
Numa
pirueta o corpo se agiganta
Bate uma preguiça e a fé fica pra trás
Amanhã num instante vira agora
E eu juro que ninguém me disse que era nunca mais...
No
dedo mindinho eu levo meu carinho
Anel de safira vai no anular
Pai de todos manda, fura bolos fura
Viro azar em sorte com meu polegar
Mão
de milho, mão de irmão que dá e tira
Sumo na mentira, escapo e digo SIM
Meia volta e o par é quem topa a quadrilha
E ninguém me livra de ser livre em mim
Me
esfrego e um gênio cumpre três desejos,
Fantasio a morte, engano a dor banal
O que ninguém me rouba é o sonho de gigante
E o tudo e o nada juntos brincam carnaval
Nunca
é tarde pra acender a lamparina
Enxergar além da vaidade vã
Nunca é nada pra quem curte uma saudade
E ninguém me nega a luz dessa manhã
Quem
disse que ser feliz é o fim de tudo
O que ninguém me tira é o começo de mim
Meu canto é maior quando o mundo é mudo
E o que muda o mundo é a chance de Aladim
O
amor é tudo, o diabo quer chamego
Nunca é muito cedo pra se achar a rima
Junto a lã, o pão, a viola, o canivete
O que ninguém me dá eu pego e danço em cima
O que ninguém explica, o que ninguém revela,
O que ninguém me disse, o que ninguém me dá
O que ninguém me livra, o que ninguém me ensina
O que ninguém me entrega, é certo, Deus dará
É certo, Deus dará...
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CANÇÃO
PARA OUVIR EM ROSA
Era
uma quarentona morena, extremamente interessante, com
uma vivacidade graciosa, uma personalidade encantadora.Vivia
em Portugal e estava de visita ao Rio, se interessou
pela divulgação que fiz num show sobre meus Presentes
Musicais, havia adorado meu som, resolveu fazer "uma
loucura linda," como ela mesma me disse, sorrindo. Nossa
negociação rolou toda por e-mail, ela já em Portugal.
Foi meu primeiro Presente Musical internacional. E um
grande amor, celebrado com música.
O
charme chique e inteligente da relação dos dois me encantou.
Ela me enviou fotos de seu amor maduro, um homem belo
e másculo, com um sorriso de arrasar. Suas mensagens
sobre ele eram poesia pura. Foi fácil fazer a letra,
ela me deu frases inteiras: "... na primeira vez que
fizemos amor eu pensei: Agora cheguei em casa..."
Ele
a esperou na volta do Brasil com um presente, óculos
com lentes rosadas para que ela visse o mundo cor de
rosa. Tinha em casa um grande aquário de água salgada,
a chamava sempre de "minha sereia". E a sereia rebolava
pelos corredores, atrás de mim até que eu terminasse
de fazer a canção.
O
desgosto da vida dele era não ter tido filhos, do primeiro
casamento. Ele era louco por crianças. E por bichos,
e por toda expressão de vida, arte, bem viver. Ela planejava
assumir uma primeira gravidez de risco, para fazê-lo
feliz.
Vejam
só como é fácil se apaixonar por um homem assim:
Canção
para ouvir em rosa
Clique aqui para ouvir em RealPlayer com Luhli
No
seu aquário eu sou o mar, no seu mar eu sou sereia
Muda a cor no seu olhar ao sabor do amor
Num jantar a luz de velas o brinde é água de coco
E o tempero é açaí
(Eu provo até sushi...)
Incenso é de patchuli, lar doce lar com feng-shui
Cantarolando
no chuveiro bossa nova e Night and Day
Colecionando livros, discos, bichos e amigos, é prata
de lei
Um leão batendo bola, na elegância um Aramis
Companheiro que consola na tristeza
E na alegria me faz mais feliz
No
seu aquário eu sou o mar, no seu mar eu sou sereia
Na primeira vez que fizemos amor, pensei:
Agora cheguei em casa...
Se é sonhar sonho semente, um jardim a refazer
Se é florir é flor de gente, my baby, meu bebê....
Se
é viajar, Rio e Paris, num flash eu seguro a lua
Um sorriso em Sevilha, entre a barra e a maravilha,
meu colo bom
Se é dormir, enroscadinho, se é dançar, agarradinho,
essa canção
Amor maduro na colheita, a primavera no outono em meu
coração
No seu aquário eu sou o mar...
Uma
aeromoça portuguesa veio buscar o disco e me entregou
o pagamento em euros, uma quantia bem maior do que o
preço combinado.
Dias
depois ela escrevia, me contando do terraço enluarado
onde haviam dançado, por horas, ao som do Presente Musical.
Ele também me escreveu, uma mensagem galante de agradecimento.
Dois meses depois, chegou um cartão virtual, anunciando
a gravidez dela. Gosto de imaginar que isso aconteceu
naquela noite enluarada...

Capa
do CD Canção para ouvir em Rosa
|
SENHOR
SITE
Era
uma mulher de uns 30 anos, morena, bonitona, apaixonada
pelo cara que queria conquistar com um presente de aniversário
muito especial, um Presente Musical. Tinham tido um
caso ardente, com toda a intimidade física, mas pouco
convívio. Ele já tirando o corpo fora, ela apaixonada.
Ela
tinha certeza que um presente assim especial ia sensibilizá-lo
e trazê-lo de volta. Mas pouco podia me dizer sobre
ele, não havia entrado no meio no qual ele vivia. Um
jovem de família muito rica, que já tinha sido preso
por envolvimento com drogas, que gostava de cachorros.
Ficava difícil fazer uma música só com isso. Ele tinha
uma firma de sites, chamada Senhor Site, gostava de
desenhar à moda dos quadrinhos antigos, tipo Dick Tracy,
curtia assistir filmes em p&b, e se amarrava no som
do U2.
Eu
sabia que a música para conquistar um rapaz desse tipo
teria que ser provocante sem ser vulgar, inteligente
sem ser afetada, convidativa sem ser carente. Envolvente,
mas não puxando pro lado romântico, pra não assustar
o cara, nada sentimental, algo assim meio casual, mas
de emoção intensa...
...bom,
com milagre é mais caro.
Com
o auxílio de minha filha Júlia, super designer gráfica,
entramos no site de sites dele. Adaptamos seus desenhos
para o projeto gráfico, ouvi 3 discos do U2 pra pegar
o beat, chamei a música de Senhor
Site e ficou assim:
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Vou
virar herói de um gibi antigo
Pra você me ler
Vou ser a mulher do cowboy que se apaixona pelo índio
E fugir com você
No I Love You, ouvindo U2
Colorir todos quadrinhos de blue
A vida pode ser um filme p&b
Ou um Senhor Site com você
Eu
sou a Narda sem Mandrake,
Diana sem Fantasma,
Eva sem Adão
Eu vou de cipó na sua festa,
Me Jane, you Tarzan
E gritar; SHAZAM!!!!
Num super vôo viajar até de manhã
A vida pode ser um filme p&b
Ou um Senhor Site com você
Eu
quero que me queira de um jeito diferente
Me deixa ser inteira brincando de ser gente...
Gostaria
de ter tido uma banda de rock para gravá-la, enfim fiz
o que pude com meu violão e um teclado com efeitos.
Ela
adorou o disquinho, foi um sucesso entre as amigas,
mas não conseguia entregar a ele. Ele estava literalmente
fugindo dela. Ela deixava recados e ele não retornava.
Ela insistiu por semanas, me ligava perplexa, me contando
as peripécias do caso. De tanto insistir foi se esvaziando,
se chateando, acabou deixando pra lá.
Ela
sumiu de mim, por um bom tempo.
Um
dia me ligou, contando que tinha aparecido um namorado
legal já há meses, um homem mais velho, companheiro,
batalhador como ela. Que resolveram tirar umas sonhadas
férias juntos.
Ao
mexer no armário pra arrumar a mala, encontrou o disquinho
esquecido. Num impulso, achando que tinha que entregar
aquilo pra ficar livre de vez, colocou o CDzinho num
envelope e o deixou na portaria do prédio onde ele trabalhava
e partiu, para suas férias.
Voltou
semanas depois, bronzeada e feliz, encontrou dúzias
de recados dele. Ele tinha ficado impactado com o disquinho,
tinha adorado aquilo, descoberto que mulher nenhuma
havia antes o compreendido tão bem, desesperava por
vê-la, que havia sido um idiota desperdiçando um encontro
desses que só acontece uma vez na vida, que pedia uma
chance, um encontro para agradecer pessoalmente aquele
maravilhoso presente.
Mas
ela estava noutra, a situação se inverteu.
Agora
era ele quem a perseguia, até que num fim de tarde a
cercou na saída do escritório e acabou rolando tudo
aquilo que ela havia antes sonhado que rolasse. la dispensou
o namorado e ficaram juntos, meses depois soube que
continuavam assim, no maior love.
A
música me apronta cada uma...
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VÓ
DE AÇÚCAR
Ele
era um desses fãs fiéis, gente simples, morava em Osasco,
São Paulo. Juntou dinheiro por meses para pagar o Presente
Musical.
Sua
avó se chamava Isa, ia fazer oitenta anos perto das
festas de fim de ano. A família planejava uma grande
comemoração, ele queria fazer uma homenagem inesquecível.
Imaginou entregar o Presente Musical com todo mundo
cantando, enquanto ele dançava com a avó em volta da
árvore de Natal.
Ele
me contou que ela era uma vó de açúcar. Que era fã de
Pixinguinha e vivia cantarolando o Carinhoso. Grandes
olhos azuis, devota de Nossa Senhora, fazia crochê como
ninguém, sempre esperava os netos sempre com um bolo,
uns pãezinhos de queijo, um café coado...
E
que, mesmo que nenhum deles pedisse, sempre dizia, a
cada um: Que Deus te abençoe.
Insisti
para que ele me contasse tudo sobre a entrega do Presente
Musical. Escreveu-me feliz que foi como imaginei, a
ciranda simples e envolvente, cantada com palmas por
toda a família, e os dois dançando entre risadas.
Pouco
tempo depois ela teve o derrame, durou poucos meses.
Mas
aquele presente foi mesmo o momento de glória. Até hoje,
quando canto a Vó de Açúcar em shows, uma ternura funda
e suave me perpassa. Um pouco da essência dela ficou
comigo, para sempre. E me abençoa.
Vó
de Açúcar
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Quando
eu mergulho na lagoa
Na água azul do seu olhar
Eu
viro criança de colo
Eu viro peixinho no mar
Quando a maré não tá boa
Ela é meu remo e canoa
Por Nossa Senhora abençoa
Me dá a alegria da sua pessoa
Ô
vó, vovó, me faz uma bala de goma
Ô vó, vovó, dá um beijo, um pão de queijo, um
café
Ô vó, vovó, vó de açúcar é ouro de mina
Me abraça, me ensina a fazer crochê com fé
Meu coração é de você...
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NATALINA
Já
havia feito todo gênero de música, para presentear minha
parceira Lucina, a cada Natal. Em15 anos de Presentes
Musicais haviam saído canções líricas, alegóricas, guerreiras,
ternas, bucólicas, eruditas... só faltava explorar a
veia do humor.
Por causa de Lucina comecei a fazer Presentes Musicais.
Ela se queixava sempre de como é difícil nascer no Natal,
que se sentia sem identidade, que só ganhava um presente,
um rosário de reclamações dentro de uma depressão de
aniversariante que se atravessava todo ano em nosso
Natal, onde as crianças exigiam seus mimos e a tradição
pedia a produção de quitutes e uma trabalheira de lembrancinhas
a providenciar.
Para
consolá-la, comecei a fazer uma música de aniversário,
além do presentinho natalino. Os amigos escutavam e
se animavam, pediam também uma música personalizada.
A coisa foi se espalhando até que, há alguns anos, resolvi
começar a vender Presentes Musicais por encomenda.
Entre
eu e Lucina, acabou virando parte de nosso ritual, nas
festas. Todo ano a coisa acontecia do mesmo jeito. Bem
que eu tentava antecipar a produção do Presente Musical,
por causa do acúmulo de atividades de última hora, mas
a inspiração não vinha. Na véspera, a música baixava
em mim, súbita, num jorro criativo. Lá corria eu pro
violão, deixando pra lá as panelas e os celofanes.Vinha
pronta, letra, melodia e harmonia, era só gravar no
meu k7 de bolso, copiar a letra e pronto.
Nunca
falhou. E sempre foi uma surpresa, para ela e para mim.
Daquela
vez, eu pedi aos anjos do Natal uma canção com humor.
Imaginei Lucina colocando o célebre gorro vermelho e
encarnando a personagem, Natalina, a mulher que nasceu
no dia de Natal e reclama que só ganha um presente...
Coloquei
todos os clichês de Natal na letra, num original enfoque
de sedução, com um toque de fantasia, um mau humor charmoso,
um porre colossal, e finalizei as frases com um breque
falado, tudo escorregando numa harmonia jazzística com
verve de chorinho antigo. Acho que, na hora, ela não
gostou muito, ficou com um sorriso meio de lado e nunca
se dispôs a interpretá-la.
No
entanto, a Natalina vem sendo, há anos, um dos Presentes
Musicais mais cantados. As pessoas adoram, riem muito,
ela conquista todos os corações e provoca muitos aplausos
nas platéias de meus shows, onde abro uma pausa bem
humorada cantando a Natalina como exemplo, para divulgar
meus Presentes Musicais.
Fica
aqui numa homenagem a todas as mulheres, como as cantoras
Simone e Janis Joplin, que o destino fez nascer no dia
25 de dezembro...
Natalina
Queria
mesmo era namorar Papai Noel
Ir num trenó puxado a rena e ver a terra lá do céu
Cada Natal eu nasço com Jesus Menino
Já reclamei com o destino, quero um dia só pra mim
Sem rabanada, sem musiquinha de sino
Sem o porre, o corre-corre, sem pinheiro no jardim
Sem pisca-pisca de luz, sem purpurina,
Panetone, celofane, sem promessas de papel
O que eu queria era não ser Natalina
E cantar meu parabéns sem misturar com Jingle Bell
Queria
mesmo era namorar Papai Noel
Ir num trenó puxado a rena e ver a terra lá do céu
Quebrar o gelo, descobrir se o bom velhinho
Embaixo da roupa vermelha é, afinal, tão velho assim
Dizer a ele, depois de muito denguinho:
- Ô, Noel, vê se me arranja um diazinho só pra mim
Sem lero-lero, comércio, demagogia
Pra poder ter a alegria de nascer e ser alguém
Que é covardia competir nesse meu dia
Com aquele menininho que nasceu lá em Belém!
Queria
mesmo era namorar papai Noel
Ir num trenó puxado a rena e ver a terra lá do céu
E descobrir que essa estrela brilha e ensina
Num céu com lugar pra todo mundo, porque não o meu?
Eu e Janis Joplin, tanta gente boa e fina
Que também é Natalina, isso é destino que Deus deu
E agora que a vida já me namora
Quando chega a minha hora já não acho assim tão mal
Pois acabo ganhando de carona coisa à beça
Ganho até peru de graça e fica feliz meu Natal
(Pago
em 3 vezes em entrada meu aval celestial
Entra ano e sai ano e Natal é sempre igual
E eu, que não sou Jesus nem nada, tomo um porre colossal!)
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