ATOS
(Luhli e Alexandre Lemos)
Nossa vida é uma tragédia em tantos atos
Quantos são os ratos a roerem nossos pés dentro dos sapatos
Sinais vermelhos são como retratos
De um amor antigo dentro da carteira
Pega a bagulheira, aperta, dá um trato
Bota na marica, o sabor que fica é de licor barato
Nossa vida é uma tragédia em tantos atos quanto são os fatos
D'Artagnan e Porthos, Aramis e Athos, mosquetes em luta
Tão filhos da puta quanto reis ingratos
Criando pessoas como se fossem gatos
Um pouco de leite disfarça os maus tratos
E lavam as mãos, atores caricatos
Imitando o gesto de Pôncio Pilatos
Que lavava as mãos e cuspia nos pratos
Todos esses anos, todos nós insanos
Todos nós escravos, todos nós pacatos
Sempre bons, cordatos, pulsos cortados em talhos exatos
Uma faca cega, velha, enferrujada
Sangra uma enxurrada que nos coagula
E que nos faz inúteis feito carrapatos
Tantos atos num só ato
No fim da festa o que nos resta, é uma ressaca enorme
E um pouco de água morna com bicarbonato
Ficha
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